O presidente da União de Freguesias de Cossourado e Linhares é daquelas pessoas que parecem ter dificuldade em passar despercebidas. Desde que, em 2009, roubou ao PS a Junta de Freguesia de Linhares que Amândio Pinto tem andado, com mais ou menos regularidade, nas bocas do povo. Do da sua freguesia (ou freguesias, agora), mas também do povo de outras paragens. O plano de acção que implementou quando chegou à junta, surpreendeu. E continuou a surpreender quando, quatro anos volvidos, mercê da união de freguesias, rouba Cossourado, outro bastião socialista, para as hostes do PSD. Pelo meio a sua projecção política, chegando mesmo a ser apelidado de “delfim” de Décio Guerreiro, que o levou na sua lista concorrente à Câmara de Paredes de Coura. Independente, em quarto lugar, mas com honras de “Ás de trunfo”. Um ano volvido, tudo mudou: abandona o PSD, onde esteve filiado apenas 15 dias, e não poupa críticas às estruturas distritais do partido. Diz que não vai levar o mandato até ao fim mas desenganem-se os que lhe vaticinaram o fim das lides políticas, pois em 2017 promete voltar a concorrer… a outra união de freguesias e até à Câmara. E, pasme-se, não descarta o apoio do PSD.
As novas instalações da Junta de Freguesia de Cossourado foram o local escolhido para a entrevista. Amândio Pinto comparece à hora marcada e, mais reticente a inicio, mais falador no final, abre o livro. De críticas, de sugestões, de lamentos, de planos. Comecemos pelos planos, para o futuro. Um futuro que, confirma Amândio Pinto, não passa pela União de Freguesias de Cossourado e Linhares. E confirma, porque o autarca já tinha, há tempos, anunciado essa sua intenção nas redes sociais. Está a ter a preocupação de deixar no seu lugar alguém que dê continuidade ao trabalho desenvolvido, desde 2009 em Linhares, desde 2013 também em Cossourado. Apesar disso, refere, “tenho a certeza que, venha quem vier, a população saberá sempre exigir o seguimento do trabalho feito”.
Um trabalho que, reconhece o próprio, faz escola noutras freguesias. “Neste momento o meu trabalho tem continuidade, inclusivamente noutras freguesias”, refere Amândio Pinto, adiantando que soube ver, nas últimas eleições autárquicas, “as alterações que houve nas propostas das diferentes freguesias, que hoje em dia dão apoio escolar e consultas médicas e de enfermagem e que estão a procurar a gestão dos baldios”. Isto apesar de considerar que, no trabalho que fez em Linhares, não houve “nem inovação nem visão nenhuma, simplesmente ouvimos a população”, explica, referindo que foi feito um diagnóstico de necessidades “e em função desse diagnóstico e do que tínhamos disponível avaliou-se o que era possível fazer”.
O seu futuro, contudo, não passará pela continuidade em Linhares e Cossourado. Isso mesmo adiantou, explicando que esse futuro “pode passar por outra união de freguesias”. À pergunta óbvia (qual união?), o autarca responde que não nasceu em Linhares, que já morou em Formariz e que passou a maior parte da sua infância na vila. Além disso, acrescenta, o futuro “pode passar por outro projecto mais ambicioso”. E de novo outra pergunta, óbvia: pode passar pela Câmara? A resposta, pronta, de Amândio Pinto, foi uma apenas: “pode!”. E mais, explica, pode ser novamente com o apoio do PSD.
Coura nunca lucrou muito com os partidos
O apoio do PSD a uma eventual futura candidatura de Amândio Pinto, seja a uma qualquer união de freguesias, seja à própria câmara, não deixa de causar alguma estranheza, tendo em conta que são públicas as divergências entre o autarca de Linhares e Cossourado e as estruturas partidárias social-democratas, nomeadamente a nível distrital, mas também a nível concelhio.
Aliás, confrontado com a possibilidade de vir a substituir uma das duas vereadoras do PSD (Helena Ramos e Janine Azevedo Soares) nas reuniões do executivo camarário courense, agora que Décio Guerreiro suspendeu o seu mandato, Amândio Pinto é peremptório a afirmar que não está disponível para ocupar o seu lugar na vereação, tendo em conta que é o nome que se segue na lista de candidatos do PSD.
“Estou em quarto, imagine que por qualquer causa era preciso eu entrar… tinham de ir ao quinto da lista”, garante o presidente da união de freguesias de Cossourado e Linhares, recordando o compromisso assumido com os eleitores da união na campanha eleitoral de 2013. “Prometi-lhes que nunca abandonaria o meu cargo na junta de freguesia, fosse por que cargo fosse na Câmara Municipal”, acrescenta o autarca. Apesar disso reconhece que, a nível político, seria muito vantajoso começar a marcar o seu espaço na Câmara. “A nível pessoal, se eu prometi à freguesia que nunca sairia para a Câmara…. Candidatei-me a presidente da junta”, refere Amândio Pinto.
Mas as divergências com Partido social Democrata vão mais longe, e vêm de mais longe. De há cerca de um ano, melhor dizendo, altura em que Amândio Pinto anunciou publicamente estar afastado de todas as estruturas do PSD, quer a nível do partido, quer enquanto representante na Assembleia Municipal, onde tem assento por inerência do cargo, tendo optado pelo estatuto de independente naquele órgão político. “Só estive como militante do PSD durante 15 dias”, explica, concluindo que o seu desencanto com o partido se fica a dever ao facto de ter percebido “que Paredes de Coura nunca lucrou muito com a ligação aos partidos. E isto tanto a nível do PSD como do PS”, clarifica.
“Nunca houve a coragem de Coura reivindicar junto dos partidos as principais necessidades do concelho”, refere Amândio Pinto, adiantando que sentia que “o que era aclamado pelos representantes do PSD em Coura”, não era acatado pelas estruturas distritais. A gota de água, explica, terá sido o facto de, aquando da auscultação da concelhia com vista a incluir obras no plano plurianual de investimentos ao nível da rede viária nacional, não existir nenhuma obra em Paredes de Coura, apesar das indicações dadas pela concelhia social-democrata nesse sentido. “Paredes de Coura até 2020 não era contemplado com nada”, critica, explicando que havia a consciência de que existiam obras necessárias. “Qualquer dos partidos (PSD e PS) fez chegar às distritais a informação que havia obras necessárias para Paredes de Coura. E tanto eram necessárias que chegamos ao ponto de a própria Câmara ver-se na obrigação de recorrer a fundos comunitários para fazer essas obras (ligação à A3)”. “É uma medida corajosa, mas só prova o quanto, tanto ao nível do PS, como ao nível do PSD, o concelho não tem sabido marcar posição”, refere o autarca de Linhares e Cossourado.
Câmara não faz obras em Linhares
O elogio à actuação do município na questão da ligação à A3 não invalida, contudo, algumas críticas à actuação da Câmara Municipal, nomeadamente no que respeita à falta de investimento na freguesia. “Foi feito em Linhares, em 2015, um caminho que foi pedido no último mandato do “Mineiro” (Manuel Fernandes, presidente da junta até 2009). E não foi no último ano do mandato”, alerta Amândio Pinto, criticando o esquecimento a que Linhares parece ter sido votado por parte dos responsáveis autárquicos.
“Estamos a falar de sete anos, sete anos em que a Câmara Municipal de Paredes de Coura fez um caminho, que já era pedido pelo anterior presidente e a que eu dei seguimento”, explica o actual presidente da união de freguesias de Cossourado e Linhares, que acrescenta que foi também feito um ponto de água no Monte do Carvalho. “Foi o último ponto de água a ser feito no concelho, naquela que é a zona mais perigosa de Paredes de Coura em termos de incêndios. Devia ter sido o primeiro. E foi feito com dinheiros comunitários, o investimento da Câmara foi zero”, remata Amândio Pinto, para demonstrar o alheamento a que a freguesia de Linhares foi sujeita. “Se aos meus sete anos de presidente de junta juntar os últimos quatro do “Mineiro”, são 11 anos em que não vi obra nenhuma da Câmara feita em Linhares”.
Criticas que o levam a considerar que “Linhares tem sido prejudicada” por parte da Câmara. E que se tornam ainda mais pertinentes quando se compara a situação desta freguesia com a de Cossourado que também passou a ser, entretanto, gerida por Amândio Pinto. “O dinheiro transferido para Cossourado no período de 15 dias (após as eleições de 2013) não chegam os últimos 11 anos de Linhares para igualar”, refere o autarca, explicando que “numa semana foram transferidos 70 e tal mi euros para a Junta de Cossourado que foram gastos à velocidade em que se queima um fósforo. Entraram e saíram”. Dinheiros que estariam relacionados com o pagamento de obras feitas naquela freguesia no mandato anterior, comparticipadas por fundos comunitários, mas em que é preciso entrar ainda com a parte não comparticipada. “Mas há freguesias que têm de pagar o resto, e há freguesias que são financiadas pela Câmara”, ataca o presidente da União de Freguesias de Cossourado e Linhares.